Um dos sobreviventes do incêndio que matou 11 pessoas em um centro de tratamento para dependentes químicos em Carazinho, no Norte do Rio Grande do Sul, falou pela primeira vez sobre a tragédia. Na segunda-feira (25), Jeferson Ricardo da Silveira, de 31 anos, recebeu alta do Hospital de Santa Cruz do Sul, cidade a 217 km de onde vive a família.
“Sobrevivente, uma nova vida”, diz.
Jeferson diz ter acordado com o barulho de pessoas correndo pelo imóvel de madeira.
“Peguei toda aquela fumaça e vi que, nos quartos da frente, já estava fogo alto. Foi quando eu chamei meu colega para a gente abrir a janela, arrombar a janela”, conta.
O fogo começou por volta de 23h do dia 23 de junho. Das 15 pessoas presentes no local, 11 morreram – 10 no incêndio e uma após ser socorrida e levada para um hospital.
Jeferson inalou muita fumaça, sofreu queimadura interna e infecção no pulmão esquerdo. O paciente passou por uma traqueostomia no Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, para onde foi transferido no dia do incêndio.
Preocupação e ‘segunda chance’
Essa era a segunda vez que o rapaz estava internado no Centro de Tratamento e Apoio a Dependentes Químicos (Cetrat). Em 2019, Jeferson ficou cerca de oito meses no local. Em maio de 2022, ele retornou ao Cetrat.
Em casa, o pai de Jeferson ficou sabendo do incêndio pela televisão. “Daí me caiu a ficha, me apavorei, porque o rapaz estava ali e tudo. Eu fiquei pensando: ‘pô, mas meu filho está aí'”, lembra Ilo Silveira.
Aliviado com a recuperação do filho, o pai considera que Jeferson recebeu uma “segunda chance de vida”.
“Deus deu oportunidade para ele de nascer de novo e, com certeza, essa é a oportunidade da vida dele. Transformar essa tragédia em um aprendizado e reagir na vida”, fala.
Investigação
A Polícia Civil pediu a prorrogação do inquérito por mais 30 dias, uma vez que aguarda a conclusão do laudo pericial. O Cetrat afirma que só irá se manifestar após a conclusão desse inquérito.
Conforme o delegado regional Jader Ribeiro Duarte, a suspeita é de que o incêndio tenha iniciado na fiação elétrica. A Polícia Civil reforça, entretanto, que somente com o resultado da perícia técnica e de outras provas é que se chegará a uma conclusão efetiva das causas do incêndio.
Algumas das vítimas, conforme informações dos bombeiros, foram encontradas em uma área de dormitórios e próximas às janelas, o que pode indicar que elas tentavam sair do local. A parte consumida pelo fogo era de madeira. Ainda segundo o Corpo de Bombeiros, as janelas não tinham grades, mas eram pequenas, por onde uma pessoa não conseguiria passar.
O prefeito de Carazinho, Milton Schmitz , disse que a entidade tinha todas as liberações para funcionamento regularizadas. “Tem alvará dos bombeiros e licenças todas em dia”, mencionou.
Em nota, o Ministério da Cidadania disse acompanhar as investigações sobre as causas do incêndio. O Cetrat “recebe investimentos do governo federal e está em situação regular”, segundo a pasta.