Nos últimos cinco anos, as forças de segurança recuperaram, das mãos de criminosos, 11.520 veículos em Porto Alegre. O total representa 48% dos veículos roubados ou furtados no período, que soma 23.986. A localização e apreensão desses bens é possível graças ao investimento em tecnologia, por meio do cercamento eletrônico, ao trabalho ostensivo da polícia nas ruas e ao aprimoramento de investigações, conforme forças de segurança. Os dados foram compilados pela Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS).
Analisando somente o último ano, a taxa de recuperação se mantém similar: 53% dos veículos roubados ou furtados foram recuperados — um total de 1.608 dos 3.056 levados. Ao dia, 2023 teve quatro automóveis encontrados na Capital. A taxa é ligeiramente maior do que o registrado em 2022: foram 3.902 veículos levados, sendo que 50% foram recuperados (1.947).
Apesar de, por um lado, o número ser considerado positivo, ainda há espaço para avançar em relação a recuperação dos veículos, analisa o diretor do Departamento de Comando e Controle Integrado da SSP, Alex Severo. Ele explica que um dos desafios para o resgate dos automóveis levados é o tempo que a vítima leva para comunicar as polícias:
— Os veículos roubados são os que mais têm chances de serem localizados, porque a vítima comunica o fato em seguida, a informação chega para a polícia de forma quase imediata. Com isso, lançamos a placa no sistema de cercamento eletrônico, que começa a buscar pela veículo, que muitas vezes é localizado pouco depois. Nos casos de furto, no entanto, a vítima costuma tomar conhecimento do fato horas depois. Só ao acordar, na manhã seguinte, ou ao sair do trabalho ou de um festa. Esse “atraso” na comunicação do crime prejudica bastante, porque os criminosos buscam esconder o veículo o mais rápido possível, como em um depósito, e ele deixa de circular.
Outro fator que ajuda a explicar a taxa de recuperação é o fato de que “muitas ocorrências” feitas não são verdadeiras, afirma o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
— Muitas ocorrências de roubo ou furto de veículos são registradas no intuito de praticar fraudes contra seguradoras. Em regra, esses automóveis não são recuperados, e ficam na estatística. Há uma incidência alta de boletins registrados para esse esquema, e por isso temos investigação em andamento no Deic — avalia Eibert.
Cercamento eletrônico
É no departamento coordenado por Severo que trabalham as equipes responsáveis por operar o cercamento eletrônico, considerado um dos maiores aliados no combate a esse tipo de crime. O sistema consiste em um conjunto de câmeras instaladas em pontos estratégicos da cidade, como grandes avenidas e vias de acesso e saída da Capital.
Quando um roubo ocorre, a ferramenta é programada para buscar pelas características do automóvel. Se passar por alguma das câmeras, o cercamento capta a imagem e mostra a localização. A partir disso, equipes são acionadas e dão início a um cerco aos criminosos, na tentativa de recuperar o veículo.
Conforme Severo, o sistema gera cerca de 300 alertas por dia no Estado, indicando possíveis irregularidades. Cada um deles é analisado pelas equipes, e cerca de 20 a 30 por dia têm prosseguimento, gerando o acionamento das autoridades. O sistema funciona 24 horas ao dia, todos os dias da semana.
Reforço no sistema
Atualmente, o cercamento eletrônico na Capital conta com 365 câmeras — há outras cerca de 450 espalhadas por demais cidades no RS.
De acordo com a prefeitura da Capital, um reforço no sistema de câmeras deve ser implementado ainda neste ano. A previsão é que mais 130 equipamentos sejam instalados na cidade até o final de 2024. Há expectativa de que outros 270 equipamentos também sejam adquiridos, conforme o secretário de Segurança da Capital, Alexandre Augusto Aragon.
Aragon explica que a aquisição é fruto de um processo de 2021, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que foi homologado neste mês.
Demais aliados
Além do cercamento eletrônico, outras frentes ajudam na localização de veículos levados, como o trabalho de análise criminal e inteligência feito nos bastidores da Brigada Militar, Polícia Civil e demais equipes da SSP.
A análise criminal consiste em buscar similaridades entre os roubos e furtos, identificando os locais onde os crimes mais ocorrem e também as principais regiões para onde são levados os veículos após o delito, por exemplo.
— Quando se faz uma análise a médio e longo prazo dos casos, é possível verificar, por exemplo, que veículos roubados em área “x” são, em regra, recuperados em área “y”. Essa análise também permite obter outras informações, que alimentam as equipes que atuam na ponta, vasculhando, fazendo varreduras nas ruas para localizar os automóveis. A análise é um trabalho que leva tempo, que precisa ser contantemente atualizado, até porque os criminosos mudam de local. Então as equipes monitoram continuamente e diariamente as ocorrências registradas, tanto de roubo quanto de recuperação de veículos, para buscar similaridades — explica Eibert, do Deic.
O diretor destaca que os casos de roubos de veículos tiveram redução tanto em Porto Alegre quanto no Estado ao longos dos últimos anos. Segundo o mais recente balanço divulgado pela SSP, em fevereiro deste ano, os casos de roubo tiveram o menor número da série histórica para esse mês. Foram 271 roubos desse tipo no Estado no mês passado, uma queda de 16% no comparativo com o mesmo período em 2023.