Não, você não leu errado. Fernando Siqueira Carvalho, especialista no setor aero, diz que a iniciativa de sustentabilidade veio da companhia aérea francesa em parceria com a empresa Airbus, bem como os grupos ADP e petrolífero Total, que realizou neste mês o primeiro voo intercontinental que, como combustível, utilizava óleo de cozinha. A viagem, que durou cerca de sete horas, foi de Paris, na França, até Montreal, no Canadá.
A aeronave Airbus A350 foi movida por um combustível com 16% de óleo para fritar. O biocombustível, produzido por uma refinaria do grupo Total, localizada em La Méde, no sudeste da capital francesa, evitou a emissão de 20 toneladas de dióxido de carbono no voo de teste. Isso se deve a legislação francesa que pretende aumentar o uso do combustível sustentável pelo setor de aviação, fazendo com que as aeronaves usem pelo menos 1% de SAF até 2022 para todos os voos com origem na França.
Tudo isso se deve como parte do Acordo Verde Europeu, que foi anunciado em 2019 pela Comissão Europeia, com políticas e estratégias para zerar as emissões de gases estufa na atmosfera entre os países do bloco até 2050. Porém, apesar de ser mais ecológica, Fernando Siqueira Carvalho diz que a alternativa é menos econômica. Segundo cálculos da Air France, essa mistura gera um custo adicional de 4€ por passageiro no trajeto realizado.
Para não perder a competitividade, a empresa pretende então incentivar o uso destes biocombustíveis para o maior número de companhias possível. A tendência, portanto, é que a prática seja gradativamente adotada pelas empresas. A Airbus, contudo, pretende dar um passo à frente, e já estuda estratégias para utilização de nada menos do que 100% de biocombustíveis em voos “nas próximas décadas”, uma vez que o combustível de óleo de cozinha refinado para avião não demanda qualquer adaptação para a utilização das atuais aeronaves do mercado.
Ou seja, o uso deste novo biocombustível não afeta a segurança dos aviões, já que o SAF (Combustível Aeronáutico Sustentável, em tradução livre), atende às mesmas especificações que o querosene, amplamente difundindo na indústria aérea. Fernando Siqueira Carvalho diz que muitas empresas já pensam na possibilidade de inserir o óleo de cozinha oficialmente em voos comerciais ou de curtas distâncias até o final do ano.